Enfim, Jair Bolsonaro foi preso preventivamente após rumores sobre uma possível tentativa de fuga para o exterior. Abandonado pelos próprios capachos, a carne podre do maior facínora das últimas décadas, finalmente, está sendo exposta para deleite do público que tem por sua personagem total ojeriza, além de servir de munição para os grupos de Extrema Direita.
Não há
ilusões quanto ao projeto da burguesia de tratar seus criados da mesma forma
que trata os seres desvalidos, descartados e desprezados. A burguesia que o
gestou, alimentou, financiou e empurrou ao poder agora o descarta sem piedade,
jogando-o na lata de lixo da história: o lugar destinado aos seus instrumentos
que perdem utilidade.
Na
democracia liberal engessada pelo Grande Capital, a burguesia jamais perdoa
seus serviçais ineptos. Basta lembrar o que aconteceu com Collor de Mello, o
ex-caçador de marajás, e com Dilma Rousseff, a nossa versão tropical de
Margaret Thatcher: ambos expulsos do poder em plena atividade, sem qualquer
cerimônia.
Bolsonaro
fracassou miseravelmente em levar adiante o projeto ultraliberal, tão ao gosto
das elites, como o presidente “anarcocapitalista” Javier Milei tenta fazer
agora na Argentina. A crise sanitária do coronavírus (2020–2023) escancarou a
incapacidade de seu ministro-banqueiro, Paulo Guedes, de manter o roteiro
destrutivo diante da morte de mais de 700 mil brasileiros e de milhões de
contaminados.
O
desastre absoluto de Bolsonaro na gestão da pandemia implodiu seu próprio
governo. Ainda assim, na tentativa de reeleição, sua derrota eleitoral foi diante de um pleito apertadíssimo em disputa com o vitoroso e recém-“regenerado” Lula. A quase-vitória se transbordou em fracasso. Era um aviso de que o sistema não abre mão de seus
operadores mais fiéis e talentosos.
Bolsonaro
acabou sendo assado em fogo brando pelo mesmo Supremo Tribunal Federal (STF)
que abençoou o “golpe parlamentar-empresarial” de 2016 e derrubou Dilma sem
remorso.
A
burguesia, com suas diversas facetas, não tolera incompetência entre seus
serviçais. Fernando Henrique e Lula são exemplos de presidentes afinados com os
interesses do Grande Capital. Lula, inclusive, foi tirado da geladeira para
servir novamente à ordem estabelecida, depois da frustração com o desempenho
caótico de Bolsonaro.
Não nos
iludamos sobre o jogo bruto que move as democracias liberais. Nada é tão
simplório quanto a fantasia de que “a justiça foi feita”. Bolsonaro caiu por
ser inútil ao sistema e, ao contrário do que tenta produzir uma certa e poliana
“narrativa progressista”, não foi por suas monstruosidades enquanto governava e
deixava o país náufrago.
Aliás, o
fascismo cumpre sempre o mesmo papel nas democracias liberais, da Alemanha de
Weimar à trôpega democracia brasileira: faz a “limpeza” dos indesejáveis,
açoita os trabalhadores, aplica o “choque de gestão” necessário e, depois, é
varrido da cena política. Claro, tudo isso até que a próxima crise do
capitalismo o convoque novamente.
Assim foi
com os militares que consolidaram duas décadas de uma cruel ditadura, com
Collor, com Dilma, e agora com Bolsonaro. Rei posto, rei deposto, e a
engrenagem do Grande Capital continua girando, faminta pela exploração da massa
de trabalhadores, pela alienação social e por lucros — muitos lucros!
(Wellington
Fontes Menezes)




